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ARTE EM CARTAZ

O enigmático e alegórico Ceslo Figo, de 72 anos, é considerado o enfant terrible da atual cena pós moderna, mas nenhum crítico sério da bola pra isso. Formado em arquitetura pela Universidade Universitária do Piauí em 1934, ex-diretor de arte, ex-garoto de programa e ex-motorista de caminhão, Figo teve uma existência conturbada e esquisitaça, que se reflete em sua violenta expressividade pictográfica e em seu incrível mau hálito. Tendo convivido intensa e intimamente (às vezes até demais) com grandes nomes da arte psicotrópica brasileira, como Parangolé Medeiros e Lego de Andrade, Figo cansou de ficar devendo o aluguel, se encheu de tentar copiar seus mestres e finalmente criou uma instalação genial. Mas seu fusca pegou fogo com ela lá dentro e ele acabou expondo essa daí mesmo.

E “essa daí mesmo” é justamente a magnífica Entranhas, obra que expõe as vísceras de nossa sociedade globalizada, em todo o seu horror horroroso, sua voracidade por informação, seu consumismo e seu vazio ético e espiritual, numa crítica contundente e bacana, legal pacas. Como? Ah, simplesmente enchendo o MASP de pedaços de fígado, rim, pâncreas, intestino e essas merdas todas, pintando tudo isso com spray prateado e depois contratando um menino pra ficar lá o dia inteiro espantando as moscas. Uma abordagem genial, perturbadora e fresca (mas não por muito tempo) das principais questões que perturbam quem não tem o que fazer ou está desempregado.

E Figo não para por aí (diabos, você pararia?). Numa inteligente intervenção interativa e participatória no próprio tecido conjuntivo da realidade, o artista ainda convida o público a se envolver numa agressivo movimento contra “tudo isso que não está nem aí”. É fácil se engajar. Basta comprar as camisetas com o nome da exposição e os simpáticos dizeres “Eu sou contra a banalização da arte enquanto manifestação da singularidade do indivíduo numa sociedade massificada” , disponíveis por apenas R$179,00 na lojinha de quinquilharias local (que aceita todos os cartões de crédito e parcela em até três vezes). Quem não quiser as estilosas peças de roupa pode ainda optar por levar pra casa um delicioso bife de fígado ou miúdos de galinha pra comer no almoço, disponíveis no açougue do museu nas cores “natural” e “prata”.

Onde: no banheiro do MASP. Entrada franca. E quem apresentar carteirinha de estudante ganha um baseado.

Ó o quê Ah é – Amando Antônio (com participação espacial de Marcos Totó)

Roqueiro, poeta e artista prático (além de borracheiro e ventríloquo amador), Armando Antônio expõe pela décima vez seus poemas curtos escritos apenas com proparoxítonas e pincel atômico em painéis de papel reciclado em chamas. A novidade agora é que as reações do público diante das obras serão captadas por uma câmera digital e transmitidas ao vivo para o videoblog do seminal videomaker Marcos Totó, que irá remixar as imagens e retransmiti-las para o próprio local do evento. Ali, o público reagirá a elas novamente e essas reações serão recaptadas e enviadas ao videoblog de Marcos Totó, que irá remixá-las mais uma vez e retransmiti-las de novo para o local do evento, e assim sucessivamente, indefinidamente, “ad aeternum” , sem parar – ou até acabar a bateria da tal câmera, vai saber. Se vai ser legal? Claro que não, mas é um bom lugar pra pegar modernas universitárias. Aparece por lá!

Onde: Galeria Espaço Circo Escola Recriarte, rua Pastor Alemão Estrábico, sem número, Vila Madalena. Entrada franca. Quem levar um quilo de alimento perecível paga dez flexões.

Erotic Chocolate Fuck City – Jason Hayeson

Famoso pelo desconcertante erotismo de sua fotografias do underground nova iorquino (e também por ter cinco mamilos), Jason Hayeson lança mais uma vez seu olhar ao mesmo tempo divertido, cruel e vesgo sobre as profundezas da alma e demais cavidades das mulheres bonitas. E choca, confunde, comove e desnorteia, enquanto o assistente dele bate sua carteira e foge.
Desta vez ele traz ao Brasil Erotic Chocolate Fuck City, um trabalho polêmico que dividiu a crítica norte-americana: metade achou completamente idiota, a outra metade achou totalmente imbecil. Por aqui, o sucesso garantido, pois Jason desfruta de verdadeiro status cult no Brasa depois que se auto fotografou mordendo o umbigo de uma super modelo e antropóloga brasileira que preferiu não ser identificada. Depois disso, o fotógrafo (e tratador de golfinhos) virou o darling da descolândia paulistana, visitou Búzios seis vezes, tomou 1027 caipirinhas, jantou com socialites e chefes de estado (ou de cozinha, sei lá) e fotografou os modernos, os descolados e todos aqueles que têm mais estilo que você, seu cafona.

É por isso que Erotic Chocolate Fuck City é exposição obrigatória pra quem não quer ficar de fora das rodinhas de bate papo nas festinhas da moda, mas ao mesmo tempo entende que a arte de verdade é frívola e que tudo isso é, no fundo, no fundo, profundamente superficial. Ou não.

Em exposição na Galeria Pajé, centro, próximo ao metrô Sílvio Santos. Preço variável de acordo com o humor do artista. Psicóticos depressivos com complexo de inferioridade pagam meia, mas quem tiver dupla personalidade paga o dobro.

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Written by RC

RC

Somos uma equipe de refinados cavalheiros versados nas mais diversas áreas do conhecimento humano, mas com algo em comum: nosso devotado estudo da alma feminina em todas as suas manifestações. Principalmente a física.

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